sábado, 14 de agosto de 2010

A Mitologia Grega - Meléagro e Atalanta [PARTE 2/2]

ATALANTA

A causa inocente de tantos pesares era uma jovem cujo rosto poder-se-ia dizer, com segurança, que era muito masculino para uma mulher e, ao mesmo tempo, muito feminino para um homem. Seu destino fora revelado e era neste sentido: "Não te cases, Atalanta; o casamento será tua ruína. Atemorizada com esse oráculo, a jovem fugiu da companhia dos homens e dedicou-se aos exercícios corporais e à caça. A todos os pretendentes (pois tinha muitos) impunha uma condição que, em via de regra, a livrava da perseguição: — Darei o prêmio àquele que vencer-me numa corrida, mas a morte será o castigo do que tentar e falhar. A despeito dessa séria condição, alguns se arriscaram. Hipômenes deveria ser o juiz da corrida.
— Será possível que alguém seja tão louco a ponto de se arriscar desse modo para conquistar uma esposa? — disse ele. Mas, quando viu Atalanta tirar as vestes, para a corrida, mudou de opinião, e exclamou: — Perdoai-me, jovens. Não sabia qual era o prêmio que iríeis disputar. E, ao contemplá-los, desejava que todos fossem derrotados e enchia-se de inveja daqueles que pareciam capazes de vencer. Enquanto se entregava a tais pensamentos, a virgem começou a correr e, correndo, era ainda mais bela do que sempre. A brisa parecia dar-lhe asas aos pés; os cabelos agitavam-se sobre os ombros e a vistosa fímbria de suas vestes flutuava atrás dela. Um rubor coloria-lhe a alvura da cútis, como a sombra de uma cortina carmesim sobre uma parede de mármore. Todos os concorrentes ficaram distanciados e foram mortos impiedosamente. Hipômenes, sem assustar-se com esse resultado, disse, fixando os olhos na virgem: — Por que te vanglorias de vencer esses lerdos? Ofereço-me para a disputa. Atalanta olhou-o com piedade, sem saber se deveria vencer a corrida ou não. "Que deus pode tentar um homem tão jovem e tão belo a se arriscar tanto?" — pensou. "Tenho pena dele, não por causa de sua beleza (embora ele seja belo), mas por causa de sua mocidade. Quisera que ele desistisse da corrida, ou, se for tão louco para insistir, que me vencesse." Enquanto hesita, entregue a esses pensamentos, os espectadores se impacientam e seu pai a convida a preparar-se. Hipômenes, então, dirige uma prece a Vênus: — Ajuda-me, Vênus, pois foste tu que me impeliste. Vênus ouviu a prece e mostrou-se benevolente. No jardim de seu templo, na ilha de Chipre, há uma árvore de folhas e ramos amarelos, e frutos de ouro. Ali ela colheu três frutos e, sem ser vista por qualquer outra pessoa, entregou-os a Hipômenes e ensinou-lhe como usá-los. O sinal foi dado. Os dois corredores partem, avançando sobre a areia. Avançavam com tanta leveza que dir-se-ia que corriam sobre a superfície de um rio ou sobre as ondas, sem se afundarem. Os gritos dos espectadores animavam Hipômenes:
— Sus, sus, ânimo! Avança, avança! Tu a vencerás! Não descanses! Mais um esforço! Não se podia saber se era o jovem ou a donzela que ouvia estas palavras com maior prazer. Hipômenes, contudo, começou a respirar com dificuldade; sentia a garganta seca e a meta ainda estava longe. Naquele momento, ele largou uma das maças de ouro. A virgem, admirada, parou para apanhá-la. Hipômenes ganhou a dianteira. Ouviram-se gritos de todos os lados. Atalanta redobrou os esforços e, dentro em pouco, alcançou o adversário. De novo ele largou uma maçã; a donzela tornou a parar, porém mais uma vez alcançou Hipômenes. A meta estava próxima; restava apenas uma oportunidade. — Faze frutificar tua dádiva, ó deusa! — exclamou o jovem, atirando para um lado a última maçã. Atalanta olhou indecisa; Vênus impeliu-a a olhar para o lado. Ela assim fez, e foi vencida. Hipômenes conquistou o prêmio. Os amantes, contudo, ficaram tão preocupados com a própria felicidade que se esqueceram de render a Vênus as devidas homenagens, e a deusa irritou-se com sua ingratidão. Levou-os, então, a ofender Cibele. Essa deusa poderosa não era ofendida impunemente. Tirou dos dois a forma humana, transformando-os em animais de hábitos semelhantes aos seus próprios: a caçadora-heroína, que triunfava graças ao sangue de seus amantes, foi transformada em leoa, e seu amante transformado em leão, e ambos foram atrelados ao carro da deusa, onde ainda podem ser vistos em todas as suas representações, na escultura e na pintura. Cibele era o nome latino da deusa chamada pelos gregos de Réia ou Ops. Era esposa de Cronos e mãe de Zeus. Nas obras-de-arte, apresenta um ar de matrona, que a distingue de Juno e Ceres. Às vezes, apresenta-se coberta com um véu, sentada num trono, com leões ao seu lado, outras vezes guiando um carro puxado por leões. Usa uma coroa, cuja orla é recortada em forma de torres e ameias. Seus sacerdotes eram chamados coribantes. Descrevendo a cidade de Veneza, construída numa ilha rasa do Adriático, Byron faz uma comparação com Cibele:

Qual Cibele marinha, do oceano
Se ergue, pela tiara coroada
Das torres majestosas, imponentes.

Moore, referindo-se à paisagem alpina, faz alusão ao episódio de Atalanta e Hipômenes:

Mesmo aqui, nesta cena portentosa
Muito na frente da Verdade avança
A Fantasia, ou bem, como Hipômenes,
Esta aquela distrai, desorienta,
Com as ilusões douradas que alimenta.

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