quinta-feira, 29 de julho de 2010

A Mitologia Grega - Apolo e Jacinto.



Apolo amava apaixonadamente um jovem chamado Jacinto. Acompanhava-o em suas diversões, levava a rede quando ele pescava, conduzia os cães quando ele caçava, seguia-o em suas excursões pelas montanhas e esquecia, por sua causa, a lira e as setas. Certo dia, os dois divertiram-se com um jogo e Apolo, impulsionando o disco, com força e agilidade, lançou-o muito alto no ar. Jacinto contemplou o disco e, excitado com o jogo, correu a apanhá-lo, ansioso por fazer a sua jogada, mas o disco saltou na terra e atingiu-o na testa. O jovem caiu desmaiado. O deus, pálido como Jacinto, ergueu-o e tratou de aplicar toda a sua arte, para estancar o sangue e conservar a vida que se esvanecia, mas tudo em vão: o ferimento estava além dos poderes da medicina. Como um lírio cuja haste quebrou-se num jardim, curva-se e volta para a terra suas flores, assim a cabeça do jovem moribundo, como se tivesse se tornado muito pesada para o pescoço, pendeu sobre o ombro. — Morreste, Jacinto — exclamou Apolo —, roubado por mim de tua juventude. O sofrimento é teu, e meu o crime. Pudesse eu morrer por ti! Como, porém, isto é impossível, viverás comigo, na memória e no canto. Minha lira há de celebrar-te, meu canto contará teu destino e tu te trans-formarás numa flor gravada com minha saudade. Enquanto Apolo falava, o sangue que escorrera para o chão e manchara a erva, deixou de ser sangue; uma flor de colorido mais belo que a púrpura tíria nasceu, semelhante ao lírio, com a diferença de que é roxo, ao passo que o lírio é de uma brancura argêntea.2 E isso não foi bastante para Febo. Para conferir ainda maior honra, deixou seu pesar marcado nas pétalas, e nelas escreveu "Ai! Ai!", como até hoje se vê. A flor tem o nome de jacinto e sempre que a primavera volta, revive a memória do jovem e lembra o seu destino. Conta-se que Zéfiro (o vento oeste), que também amava Jacinto e tinha ciúme da preferência de Apolo, desviou o disco de seu rumo para fazê-lo atingir o jovem.

Keats faz alusão a isso no "Endimião", quando descreve os espectadores do jogo de argolas:

Contemplam os jogadores dos dois lados
Lembrando, ao mesmo tempo,
A sorte de Jacinto, quando o sopro,
De Zéfiro o matou;
De Zéfiro que, agora, penitente,
Quando Febo se eleva
No céu, as pétalas da florzinha beija.


Também no "Lycidas" de Milton há uma alusão ao jacinto:

A roxa flor que traz a dor impressa.

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